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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Magnanini, uma das vozes científicas do Código Florestal.

Magnanini, uma das vozes científicas do Código Florestal. Foto: JD Senhorinho

Por enquanto, a poeira baixou nas discussões sobre o Código Florestal. Mas a comunidade científica continua espantada com as propostas de mudança da lei encabeçadas pelos ruralistas. A nova chuva de críticas vem da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que traz na edição desse mês de sua revista a reportagem Código Florestal ao arrepio da Ciência”.

A reportagem desmascara mais uma vez um dos argumentos centrais de Aldo Rebelo e companhia - que, aliás, viram os votos escaparem pelos dedos nesta eleição. A bancada ruralista jura de pé junto que as mudanças na lei têm amparo na ciência. Mas é só virar o microfone para os pesquisadores para ouvir uma penca de reclamações por parte deles.

“Faltam dados para tomar uma decisão”, resumiu o ecólogo Jean Paul Metzger, da USP. Junto com outros colegas, Metzger já havia publicado recente carta na revista Science, alertando para os efeitos que viriam a reboque caso o código fosse modificado: 70 milhões de hectares da Amazônia iriam para o chão, enquanto a curva de emissões iria para o céu. E, nessa reviravolta, pelo menos 100 mil espécies poderiam ser extintas.

Para a matéria, as repórteres Giovana Girardi e Andreia Fanzeres ouviram especialistas de diferentes instituições. E o consenso é: se forem aprovadas, as modificações vão gerar um desequilíbrio ecológico que, cedo ou tarde, seriam um tiro no pé do próprio agronegócio. “A proposta vem na contramão de tudo o que a ciência está falando que é para fazer, não só por uma questão de bondade com os organismos, mas para o bem do ser humano”, afirmou Célio Haddad, da UNESP de Rio Claro.

A própria Embrapa, de onde os ruralistas tiraram um estudo em que basearam todos os seus argumentos – segundo o qual falta terra para se produzir no Brasil –, se posicionou contra. “Não há problema, no momento, de falta de terra para expansão da agricultura e pecuária no Brasil”, garantiu Celso Manzatto, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente. “Mostramos nos últimos 20 anos que é possível ganhar produtividade sem precisar incorporar novas terras”.

Os cientistas não se opõem a mudanças na lei. Mas querem participar do processo. “É possível mudar o código em cima de um debate feito por nós (academia, pesquisadores etc.), não por Brasília, nem pela bancada ruralista. Tem de ter amplo debate”, defendeu o engenheiro agrônomo Alceo Magnanini, num debate organizado na última semana pela UNESP.

Hoje com 85 anos, Magnanini já foi diretor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e é, atualmente, o único remanescente do Grupo de Trabalho que reformulou o Código Florestal em 1965. À época, a lei 4.771 levou três anos de “demorados e exaustivos debates” para sair do papel, e contou com o pitaco de um time de advogados, engenheiros agrônomos, botânicos e gente com experiência de sobra em órgãos dos setores agrário e florestal.

“O projeto de lei não foi apenas o resultado do trabalho de alguns tecnocratas, como muitas vezes ouvi e ouço, divertido, falar ainda hoje em dia. Foi produto de um esforço sério e dedicado de anos de estudos e reuniões que reuniu os pareceres de dezenas de especialistas e as opiniões de dezenas de interessados em matéria florestal, bem como as análises da legislação e direito florestais de outros países”, contou Magnanini ao Greenpeace.

Quanto às novas propostas apresentadas, o caminho não parece ter sido tão democrático, transparente e científico. “Eu mesmo nunca fui consultado”, disse o engenheiro agrônomo, juntando-se ao coro de outros tantos cientistas que só viram a proposta pronta, na mesa. “A mudança simplesmente foi apresentada para nós”.

Fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/trator-na-cincia/blog/26568

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