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domingo, 3 de abril de 2011

Está na hora de transformar as maiores cidades brasileiras

Germano Lüders

INFRAESTRUTURA


Está na hora de transformar as maiores cidades brasileiras

As grandes cidades brasileiras padecem com uma infraestrutura sofrível de transportes, telecomunicações, saneamento e energia. Com o investimento de 330 bilhões de reais é possível mudar essa realidade em 15 anos

Alexa Salomão
Exame - 23/03/2011


"O século 19 foi o século dos impérios. O século 20, o dos estados-nações. Mas o século 21 será o século das cidades." O autor dessa máxima, traduzida em vários idiomas, é o americano Wellington Webb, que governou a cidade de Denver, no Colorado, nos Estados Unidos, entre 1991 e 2003. Webb foi uma espécie de prefeito-trator. Por três mandatos consecutivos supervisionou cerca de 7 bilhões de dólares em investimentos na infraestrutura local, cifra invejável para uma cidade de apenas 600 000 habitantes. Em parceria com a iniciativa privada, modernizou o aeroporto, reformou o centro de convenções e reurbanizou a área central, repaginando prédios históricos para receber escritórios, lojas, bares e restaurantes.

Com o choque de obras, Denver se tornou referência de cidade moderna e polo de criação de empregos. No Brasil, onde a gestão municipal é a face menos preparada da administração pública, o exemplo de Denver pode parecer um fato isolado. Mas não é o caso. Webb representa uma nova geração de prefeitos que, acompanhados de investidores, empresas e acadêmicos, entendem que as cidades têm um novo papel e miram uma única meta: planejar o inevitável crescimento urbano para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

Segundo o mais recente relatório das Nações Unidas sobre crescimento urbano, 2008 foi um marco na história. Foi quando, pela primeira vez, mais de metade da população do mundo passou a viver nas cidades. Hoje, são 3,5 bilhões de pessoas. Em 2030, o contingente chegará a 4,9 bilhões. Com essa concentração ímpar de gente, as sociedades urbanas do século 21 vão ditar a geração de conhecimento, o uso dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico global. Há outra mudança. A força motriz dessa transformação serão os países emergentes, não os desenvolvidos. Em 20 anos, as cidades da América Latina, da África e da Ásia reunirão 80% da população urbana.

Caberá aos gestores públicos de cada uma delas definir se o fenômeno vai fomentar prosperidade ou miséria. No Brasil, as cidades já abrigam 84% da população e geram 90% da riqueza. Nos próximos 40 anos, as áreas urbanas do país abrigarão 20 milhões de novos moradores, o equivalente a duas cidades de São Paulo. Para um país que tem a pretensão de se tornar potência, fica a pergunta: o que as cidades brasileiras precisam fazer para acompanhar a transformação global?

A consultoria PwC e a empresa de estudos de mercado Urban Systems Brasil traçaram, a pedido de EXAME, um raio-X da infraestrutura de quatro setores - transportes, saneamento, telecomunicações e energia - em nove das principais cidades brasileiras - São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Recife e Porto Alegre. O levantamento mostra a realidade da estrutura urbana e indica o que será preciso fazer nos próximos 15 anos para equipará-la ao padrão das cidades mais avançadas.

O diagnóstico evidencia o que qualquer morador das metrópoles brasileiras sente na pele diariamente. Estamos muito, mas muito atrasados na garantia de um mínimo de qualidade de vida. Em São Paulo, maior cidade do hemisfério sul, mais de 1 milhão de pessoas - o equivalente a 11% da população - não estão ligadas à rede de esgoto. A cada verão, chuvas instalam o caos no trânsito de quase todas as metrópoles do país. Deslizamentos de terra matam moradores das áreas mais pobres com uma recorrência absurda. Somos também campeões mundiais de blecautes, que volta e meia deixam milhões às escuras. Os aeroportos, mesmo os recém-reformados, como o de Porto Alegre, operam bem acima do limite. E segue por aí a lista de nossas mazelas urbanas.

Resolvê-las, com boa gestão e novas tecnologias, deveria ser a prioridade. "As cidades brasileiras cresceram sem planejamento, replicando em pleno século 21 os mesmos problemas de 50 anos atrás: transporte público ineficiente, falta de saneamento básico, favelização da periferia", diz o canadense George Martine, consultor de planejamento urbano das Nações Unidas.

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